quarta-feira, 23 de abril de 2014

O homem do verão de 2014

O celular dispara e não é o alarme, é mais uma conversa no WhatsApp que faz com que ele acorde apavorado com medo de perder alguma novidade. Os olhos nem estão abertos, mas ele pega o celular e confere os últimos grupos, algumas garotas perguntando qual a boa do dia, uns amigos chamando de "viado" e perguntando onde rola a cachaça do sábado. Ele não quer levantar da cama, só queria um filme e ficar no silêncio, mas como querer isso diante de tantos convites tentadores? É sábado e as garotas já estão esperando. Elas nem sabem, mas ele vai aparecer. Toma um banho, escolhe a melhor roupa de marca que tem no guarda-roupa, o WhatsApp continua apitando e o tinder já tá bombando. É hora de ir aproveitar mais um final de semana merecido. Pega a chave do carro, ele prefere Oasis, mas não quer passar uma fama ruim, então escolhe um forró, com aquelas letras bem sofridas que falam de gaia, cachaça e mulher safada. É a trilha sonora daquele dia.

Manda áudio pra alguns amigos e já pergunta se eles tem amigas, ele quer beijar. Os amigos informam que estão no bar, e ele já vai chegando com aquela vontade de ser o galã do momento. As meninas sorriem fazendo a linha santa, shorts rasgados, óculos escuro ray-ban, blusas transparentes e o dia está apenas começando. Na mesa, whisky, energético, falsos sorrisos, falso interesse. Eles não se importam onde elas estudam, quais os planos de cada uma, a intenção é apenas colocar mais bebida no copo e quem sabe, no fim, provar o corpo. Elas estão um tanto desesperadas e torcendo pra que seja diferente daquela vez. Mas não é. Nunca é. Ele finge paixão, coloca os braços em cima dos ombros da menina da vez, pode ser morena ou loira, depende do gosto e do que combina mais com o dia. O clima é de verão, então ele vai na morena. Cheira o pescoço dela e ela solta um sorrisinho, faz a linha difícil, ele só quer fazer a linha de quem ter algo sério. O celular continua tocando, tinder, faz check-in no facebook, manda áudio nos grupos do WhatsApp dizendo que tá com uma gata e que a noite é dele. E assim continua.

Bêbados, a conta já passa dos quatrocentos reais, a chave do carro pendurada na bermuda, conversas sobre sexo e copos em cima da mesa. Tudo é uma grande farra, uma diversão. Não tem dinheiro? passa no cartão do pai. Aí a noite chega, talvez ela vá pra cama com ele, mas se ela não quiser, ele já está olhando pra outra. E assim o dia vai embora, levando com ele mentiras. Ele é uma mentira, só tem vergonha de assumir que preferia ter alguém por perto, disfarça a falta de amor paquerando diversas meninas. Este é o homem do verão de 2014. Volta pra casa ouvindo algo mais triste, talvez um brega, canta tão alto e nem percebe que ao mesmo tempo implora que aquele vazio seja preenchido. Ele chega em casa, joga a chave do carro e deita na cama. Sim, ele dorme sozinho, com o mesmo vazio. No dia seguinte começará tudo de novo e de novo...

terça-feira, 22 de abril de 2014

Quando foi que nós crescemos?

Para Pedro Araújo

Apreciar suas doces e frágeis palavras me fizeram acreditar que não estou só nesta caminhada chamada vida. São tantas dores, amores, machucados, angústias que carregamos dentro do nosso coração. Tem dias que nem me suporto, tento disfarçar a minha dor através de poucos sorrisos ou boas doses de gargalhadas. Acontece que fico enfurecida por dentro por ninguém compreender que não estou sorrindo verdadeiramente e que não estou bem. Não quero culpar ninguém, mas eu observo tantos os outros, eles nem precisam dizer nada pra mim, eu já consigo entender mais ou menos o que está se passando com eles, mas ninguém nunca me repara.

Você me perguntou quais são os meus medos, que solidão tem apertado meu peito e do que tenho medo de perder. Confesso que passei horas pensando, pois tenho medo de perder muitas coisas. Tenho medo de perder minha mãe, minha família, os meus poucos amigos, a minha vontade de viver, mas acho que o que eu mais tenho medo de perder é a minha fé. É essa fé que me move, que me fez caminhar, não quero perder a fé nas pessoas e muito menos em Deus. Quando você não tem fé, você não tem mais nada. E eu realmente morro de medo de perder algo tão importante assim. Ultimamente tenho sentido um peso em cima dos meus ombros e acho que vou desabar. Já desejei ser criança novamente e ser colocada no colo, desejei ser inocente e não entender nada que está acontecendo. Recordo-me que minha maior vontade era de crescer, poder ir badalar, sair com meus amigos, provar um pouco do álcool. Aí você cresce e percebe que a vida de gente grande é um saco.

Pagar contas, responsabilidades e de repente, os seus pais, aqueles que te protegiam quando criança, jogam algumas responsabilidades em cima de você. Tenho me sentido uma pessoa pesada de tantos problemas e talvez eu não precise partilhar com alguém, pois ninguém me entende. A verdade é que a vida tem me ensinado que a dor é apenas sua e só você pode carregar a sua cruz. Tenho desejado sumir, viajar, parar em uma ilha deserta; tem horas que tudo pesa, tudo incomoda e você vai deixando de lado o que realmente importa. Só que eu ainda tenho fé de que as coisas vão mudar e que um dia vou me sentir totalmente satisfeita, alegre e feliz com meu estado de espírito. 

Mas, me diga, quando foi que nos tornamos adultos? De repente abro os olhos e percebo que já cresci. Como foi isso?

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Silêncio e amor

Chegou ao apartamento dele. Cinco horas da tarde e o sol já queria ir embora. Sim, ela devia ter seguido o conselho do sol e ir junto com ele. Mas, algo pedia para que ela continuasse parada em frente à porta dele. Tudo parecia patético, ridículo! A verdade é que tudo dentro dela doía, cada pedaço dentro dela estava partido e sim, ela estava sem rumo. A pior coisa que existe é alguém sem rumo, sem fé. O vazio dentro dela precisava ser preenchido de alguma maneira e ela estava escolhendo aquele rapaz para preenchê-lo. Que boba! Ninguém preenche o vazio de dentro do coração com outra pessoa. Só ela achava que sim. Havia um desespero gritante dentro dela, ela precisava abandonar aquela vida que estava levando.

Antes que ela pudesse bater na porta, ele abriu. Ficou parado com os olhos incrédulos. Estava sem reação. Os dois se olhavam sem saber o que falar, apenas sentiam o silêncio. Na cabeça dela, tudo estava confuso, ela tinha uma vontade enorme de dizer tudo que estava preso. Na cabeça dele, tudo estava tranquilo, ele sabia que não sentia nada por ela, mas só não tinha jeito para despachá-la. A vizinha abria a porta e aquele barulho de porta velha fez com que os dois virassem para analisar a cena, o corredor continuava escuro e só o maldito barulho da porta da vizinha permanecia no lugar. Eles se concentravam na expectativa da porta abrir. A vizinha deu um 'boa noite' e cambaleou de lado, sim, estava muito velha. Pronto, o silêncio voltou. Não tinha mais barulho de porta, nem vizinha e nem boa noite. 

Ela deu um passo pra frente e ele deu um passo pra trás. Ela esticou as mãos, ele colocou as mãos no bolso. Ela tentou abrir a boca, ele tapou os ouvidos. Ela chorou, ele olhou para baixo. Ela ofereceu um cigarro, ele rejeitou. Ela tentou beijá-lo, ele se afastou. E, quando ela decidiu falar, ele fechou a porta. 

Ela podia bater na porta dele quantas vezes fosse preciso, o vazio era apenas dela. Ele, estava completo. Não ia adiantar ela implorar amor dele, eles não nasceram para serem um do outro. E quando uma pessoa não nasce pra ser nada do outro, nem adianta tentar, simplesmente não acaba dando certo. O amor é mesmo uma droga.

domingo, 6 de abril de 2014

Sobre quem fica e quem vai

Nós achamos que somos donos do nosso próprio destino e achamos que sabemos de tudo. Mas, na verdade, não sabemos de nada. Temos a mania de achar que entendemos sobre relacionamentos, que os nossos conselhos são sempre os melhores e os mais importantes, que conseguimos controlar o nosso sentimento pelo outro. Meu caro, sinto te dizer que não conseguimos controlar o que sentimos. É triste encontrar um ser humano que acha ter o controle da sua própria vida, somos nós que guiamos nossos caminhos e escolhemos por onde queremos ir, mas a vida é cheia de incertezas. 

Vi um episódio da minha série favorita que me fez pensar muito e me deixou um tanto triste. O casal da série são duas pessoas diferentes e até querem coisas diferentes. No episódio, mostrou que se a moça dissesse um sim para eles e vivesse a vida da maneira que ele sempre quis, fazendo apenas a vontade dele, ela viveria infeliz. E depois, mostrou uma cena que se ela ficasse com ele, mas fizesse tudo do jeito dela, ele viveria infeliz. Foi basicamente isso. O que realmente me doeu foi que precisei assistir um episódio assim para entender que há pessoas que não nasceram para ficarem juntas e que não adianta, se o destino não quiser, nada dará certo. Isso me fez pensar em quantas vezes desejamos do fundo do nosso coração ter alguém e não nos perguntamos se realmente é daquilo que precisamos mesmo. É importante você saber com que tipo de pessoa você se relaciona, se ela é alguém que sonha como você, se vocês planejam coisas iguais.

Ouço alguns comentários de pessoas que dizem que irei quebrar minha cara lá na frente, que serei o "capacho" de alguém e que cegarei, farei todas as vontades do outro. Talvez eu seja má interpretada porque penso demais, acredito que relacionamento é algo sério, precisam ser 'estudados' e refletido sobre que tipo de vida você terá lá na frente. O agora é muito bom, não nos preocupamos com o amanhã, queremos e temos pressa de viver apenas o hoje. Mas, seria muita loucura minha se eu já pensasse no amanhã? É que tenho pressa de saber como eu estarei. Olha, existem pessoas que não precisam estar na sua vida. Relacionamentos acabam e recomeçam. Espero que eu não cegue e nem seja capacho de alguém. Acho que ninguém nasceu pra ser do outro e nem viver em função do que o outro quer. Tudo precisa ser colocado em seu devido lugar.

quarta-feira, 2 de abril de 2014

Disfarçar dor através de sorrisos

Disfarço dor através de sorrisos. Tenho aprendido que é melhor sorrir do que fazer cara feia e ficar emburrada pra vida. É que tenho disfarçado a dor pra que ninguém desconfie. Resolvo sorrir e abraçar quem coloca o ombro pra eu deitar. As pessoas não te conhecem, as pessoas não me conhecem. Todo mundo se preocupa apenas com a sua dor, com as suas vontades, com os seus sonhos. É um egoísmo fundamental, pois se a gente para pra viver a dor do outro, a gente não vive. Mas, que dor é essa? Amar alguém dói. Independente do relacionamento. Pode ser um familiar, um amigo, um amor. Dói. E tem dias que vai ser difícil levantar da cama pra ter que encarar a manhã. Tem dias que é gostoso amar o outro, quando estamos de 'bem' e tudo caminha leve. Aí sim fica mais fácil amar aquela pessoa.

Acho que dói mesmo quando a gente deposita expectativas na outra pessoa. Expectativas dela se tornar melhor, de crescer na vida, de sorrir sorrisos doces, de amar a gente de volta. Quando não acontece algo assim, ficamos tristes, decepcionados, há um furo bem no meio do nosso coração. Às vezes, me pergunto como meu coração ainda bate. Às vezes, me pergunto se tem algum remédio que cure todas as feridas do meu corpo. Às vezes, coloco as mãos na cabeça e me pergunto o que fiz de errado. Descubro que não fiz nada de errado. Descubro que cada pessoa tem uma dor diferente. Descubro que amar alguém dói porque desejamos ao outro apenas coisas boas e se ele não faz o que nós queremos acaba machucando.

Olha, é melhor disfarçar a dor com sorrisos do que se matar diariamente. Se a gente não luta pra ficar bem, se a gente não cuida da gente, quem é que vai cuidar? Se a gente não solta um sorriso doce, quem é que vai nos sorrir de volta? Se a gente não esquece todas as nossas feridas, quem é que vai esquecer? Se a gente não sonha com um futuro bom, quem é que vai sonhar? Tem dias que não me aguento, tudo dói. Mas é preciso que eu saiba sonhar e sim, irei continuar disfarçando minha dor através de sorrisos.