sábado, 17 de maio de 2014

Sessão de terapia

Eu não sabia o que precisava falar, mas sabia que precisava dizer algo. As palavras estavam me sufocando e a necessidade de que elas saíssem da minha boca era grande. Entrei naquela sala enorme, um sofá e uma cadeira me esperavam. Na cadeira, o rapaz que parecia ser bem calmo me fitava com os olhos tentando adivinhar o que eu estava pensando. Sei que poderia dizer milhões de coisas, mas falei pra ele que me sentia sozinha. Ele não entendia como eu me sentia sozinha, se em uma hora de terapia eu falava sobre diversas pessoas. Mas sim, eu conseguia me sentir totalmente solitária. Falei sobre você e sobre a capacidade que você tinha de me deixar possessa e confusa sobre os meus próprios sentimentos. Sim, escolhi falar sobre você porque atualmente era com você que eu sonhava todas as noites. O terapeuta me perguntou se eu me sentia só porque não estávamos juntos, mas eu afrmei que não, não estarmos juntos era apenas consequência do que eu tinha escolhido. Pausa para o choro.

Ele me perguntou qual era o meu real problema e eu continuei dizendo: a solidão. Ele perguntou se eu tinha amigos e eu confirmei com a cabeça, mas dentro de mim não sabia se realmente tinha. Quis dizer que não estava só, que convivia diariamente com alguém, mas mesmo diante de algumas pessoas, eu me sentia perdida. As pessoas estavam me esvaziando, elas não sabiam me escutar. Em algumas sessões de terapia pude perceber que não sei seguir em frente. Pude descobrir isso quando lá no terceiro ano, sim, no terceiro ano do ensino médio, os meus amigos passaram no vestibular e seguiram em frente. Eu não, quis que tudo continuasse da mesma forma. Acontece que tem uma hora que a vida gira e tudo precisa mudar, mas não sei mudar. Quando finalmente aprendi, minha vida levou um rumo diferente, mas aí vieram as mudanças e eu também não sabia me acostumar com a nova fase.

Hoje em dia as pessoas estão partindo da minha vida. Aos poucos vou perdendo o contato e o interesse por alguns. Não queria que fosse assim, mas acho que preciso seguir em frente.


terça-feira, 6 de maio de 2014

O homem e a tecnologia

O alarme do celular despertava indicando que estava começando mais um dia. Ele se levantava, fitava o teto e pensava no dia que estava chegando. Sim, ele gostaria de permanecer para sempre deitado naquela cama quente. Escolhia uma roupa despojada, um casaco laranja, pegava seus fones de ouvido e escolhia a música mais melancólica. Fazia frio, o céu estava cinza. Enquanto ele caminhava, as pessoas passavam apressadas diante dele, ninguém reparava em nada. Com as mãos nos bolsos, o jovem escritor, escrevia histórias mirabolantes dentro da sua própria cabeça e dava sorrisinhos. Chegando ao trabalho, as pessoas davam um bom dia, mas não tiravam os olhos da tela do computador. Ele sentava na sua cadeira e iniciava sua jornada.

O rapaz tinha amigos em todos os lugares do mundo. Amigos virtuais, entende? São Paulo, Rio de Janeiro, Cuiabá, Minas Gerais e assim vai. Ele gostava de muitas pessoas, sorria com as histórias delas, era tudo muito legal, pois não havia realmente uma troca de confidências e intimidade. Ao fim do dia, ele se despedia de todos, desligava o computador e se preparava para voltar. As pessoas do trabalho davam boa noite, mas não tiravam os olhos dos celulares. Ele apenas acenava na esperança de que alguém acenasse de volta. Ninguém fazia isso. Colocava novamente os fones de ouvido e escolhia mais uma música triste.

Ele não tinha amor, ninguém o esperava na volta de casa, ninguém o compreendia. De repente, as coisas mudaram, talvez as pessoas tivessem ficado loucas. Ele só queria atenção de alguém, mas ninguém correspondia. Sim, todos estavam desesperadamentes ligados ao mundo tecnológico e esqueciam de quem era real, de quem estava precisando de uma palavra de conforto. Ele também fazia uso de toda aquela tecnologia absurda que vinha ganhando força, ele também era melhor amigo da máquina, mas meu caro, a tecnologia ainda não podia fazer com que ele sentisse o ser humano e trocasse emoções. Ele precisava de abraços, carinho e uma boa conversa, mas tudo tinha virado tão virtual.

domingo, 4 de maio de 2014

Que teu afeto me afetou é fato

(Você pode ler este texto ouvindo Lana Del Rey http://www.youtube.com/watch?v=Bag1gUxuU0g)
 
Os dois não sabiam o que queriam, mas sabiam que se queriam. Era meio complicado tentar entender um relacionamento que não era um relacionamento, mas talvez fosse uma tentativa quase frustrada de fazer com que desse certo. Eles não se olhavam da mesma forma que olhavam para os outros, não se tocavam da mesma forma que tocavam os outros, eles não se beijavam como quem beija qualquer um. Tudo era muito intenso, quase que surreal. Mas, eles não sabiam conduzir a relação, na verdade, eles nem sabiam o que significavam um na vida do outro. De uma coisa eles tinham certeza: não sabiam se largar mais. Que coisa estranha essa de alguém adentrar sua vida e de repente, você não ter mais o controle sobre seu próprio pensamento, coração. 

Era fato que o afeto dele afetou ela. Era fato que ela gostava dele sem precisar demonstrar em locais público quaisquer ato. Era fato que ela pensava nele antes de dormir e que talvez, sentisse o cheiro dele em outras pessoas. Também era fato que ele tinha se encantado com ela, que sonhava com ela quando dormia e que já tinha decorado o som da risada dela. Mesmo com todas essas coisas boas e encantamento ganhando força dentro do coração de cada um, havia algo que não conseguia fazer com que eles seguissem em frente. Talvez os dois não tenham nascido um para o outro. 

Você está bem, livre, leve e solta. Seu coração já não pesa, você começa a usar sua razão tão bem e vira até conselheira amorosa de suas amigas. Só que a vida te surpreende e te joga uma pessoa bem no meio da sua cara, tá, tudo bem, ela não te pergunta nem se pode, se vai interromper algo. Você reencontra alguém e logo quer fazer parte da vida dela também. E aquele abraço dado é o suficiente para que você queira continuar vivendo. É tão bom sentir o outro, tão incrível sentir-se apaixonado e saber que tem alguém que te apoia. 

Mas, quando alguém entra na sua vida e você não sabe o que fazer, qual caminho deve seguir e suas dúvidas são sempre maiores do que suas certezas, aí é quando você percebe que o relacionamento não deve caminhar. Quem gosta, não duvida. O amor é uma certeza de que nós temos que é daquela pessoa que precisamos. O afeto afetou os dois e era visível, mas também era fato que eles não conseguiam mais seguir em frente, eles estacionaram e no fundo, nem eles conseguem saber o que querem um do outro.

sexta-feira, 2 de maio de 2014

Uma pausa para ler este texto

(Você pode ler este texto ouvindo Death cab for cutie https://www.youtube.com/watch?v=NQuVudn1-RE )

Uma pausa para escrever. Uma pausa para o café. Uma pausa para ouvir a sua música favorita e poder cantarolar bem alto. Uma pausa para rever as contas. Uma pausa para rever o coração e os sentimentos. Aí ela coloca a mão na cabeça e pensa em todas as coisas que já foram, em todas as pessoas que já foram, quem sobrou? Ela conta nos dedos quantos amigos ainda tem. Mas, ela também percebe que muitos amores passaram e não sobrou nada deles. Quando uma pessoa se vai, ela leva com ela um pedaço da gente. Ela sabia bem disso. Sua cabeça estava confusa devido aos últimos acontecimentos. Acontecia tanta coisa e ao mesmo tempo não acontecia nada. Sim, ela sentia sua vida indo pra frente e pra trás, como se existisse uma corda que a puxasse. Uma pausa para pensar um pouco nela. Ninguém pensava nela, mas ela devia pensar que alguém pensava nela, pois seria frustrante saber que não existe alguém pensando no sorriso dela.

Uma pausa para olhar o céu e perceber as maravilhas da vida. Tinha dias que ela acordava bem e sorria até pro porteiro, mas em dias nublados, por exemplo, ela esquecia que precisava calçar sapatos, ao invés de chinelos velhos. Uma pausa para escrever uma carta. Uma carta pra quem quer que seja, pra quem estiver disposto a analisar algumas palavras que iam se soltando aos poucos, quase ninguém compreendia mesmo o que estava querendo dizer. A verdade é que a carta pedia socorro, um desespero de que alguém apareça e salve ela desse mundo confuso que vive. Ela não aguentava mais ter que se apaixonar por qualquer um que aparecesse pela frente, realmente era frustrante a ideia de que não conseguia manter relacionamentos, na verdade, as pessoas não conseguiam manter relacionamentos com ela. Todos iam, ninguém ficava. E sim, o coração dela ia junto, sobrou apenas um nó. 

Uma pausa para parar de pensar e voltar ao trabalho. Ela precisava se manter firme diante das situações mal resolvidas da sua vida e tentar resolver as situações mal resolvidas da vida dos outros. Ela parecia uma pia de lavar pratos, as pessoas vão lá e jogam resto de comida, pratos sujos, copos, e depois, alguém vem e lava, enxuga e guarda. Era bem assim que acontecia com ela diariamente, todos jogavam tudo na pia dela e com a maior paciência do mundo, ela ia e limpava, enxugava as dores. Mas, e quem está limpando a pia dela quando ela precisa que os pratos sejam lavados?