O único som que predomina é o barulho do vento batendo na minha janela. Estou deitada no sofá sentindo a falta dele, coloco minhas mãos na única coisa que restou nossa: Lily, nossa pequena cachorrinha. Tenho a sensação de que o mundo de repente vai acabar e toda essa angústia que carrego no peito vai desaparecer. E realmente peço por isso.É muito ruim você ter que continuar convivendo nesse meio social, aturando pessoas que só se importam em ganhar dinheiro e estão fechadas dentro do seu próprio mundinho. Mas eu também era assim: festas, baladas, bebidas com o maior nível de álcool, homens de pouca inteligência e corpos malhados. Gostei disso tudo até te conhecer.
Te conhecer foi a experiência mais linda da minha vida. Nos conhecíamos do passado, se brincar até de outras vidas, mas nos reconhecemos no primeiro instante. Marcamos um cinema e um jantar, mas não deu certo. Acabei perdendo a hora. E você nem pareceu ficar constrangido sentado no sofá do cinema esperando a princesa que não apareceu. Remarcamos. Decidimos ir caminhar na orla, olhar as estrelas e conversar sobre a rotina. Você ficou preso no trânsito e me deixou sentada na areia do mar. O destino não queria a gente. Não tive sua paciência, fui embora. Conhecei outros homens, voltei para vida de balada. Você ligou quase todos os dias, mas eu tinha desistido de nós. Era muito azar, o destino não queria isso. Marcamos duas vezes e deu errado, continuar acreditando não servia de nada.
Alguma coisa dentro de você insistia na gente. Nos encontramos na fila do teatro. Você estava sozinho e eu também. Sorrimos. Você perguntou se eu ficaria incomodada com a sua presença, eu disse que não. E pela primeira vez na vida o destino nos uniu. Compramos a cadeira um ao lado do outro. Saímos de mãos dadas da peça e fomos jantar. O beijo surgiu e eu acreditei que existia amor. Até aquele momento não acreditei que houvesse um sentimento tão forte capaz de unir duas pessoas. Achei baboseira. Quem ama tem sérios problemas mentais. Criei minha própria teoria. Estive errada por tanto tempo e pela primeira vez encontrei aquela outra metade que me faltava. Encontrei vida, esperança, felicidade.
Um dia você partiu. Disse que encontrou outra pessoa. Fiquei desnorteada e tentei voltar para vida que levava. Não deu. Era tudo muito forçado, as pessoas saíam para se distrair e encontravam decepções. Meu mundo não era aquele. Meu mundo era ao seu lado e eu não conseguia compreender o que tinha acontecido com o nosso amor. Cadê o destino? Entrei em estado de depressão. Cheirei o lençol por muito tempo e até o seu sabonete estava guardado na gaveta. Não acostumei com a sua ausência. Só me restou Lily. Ela foi a minha companheira e de vez em quando sentava ao meu lado quando as lágrimas molhavam meu rosto. Não consigo entender o que houve com a gente, mas aprendi a aceitar. Aceitar que nem tudo é como a gente sonha, como a gente quer. Aceitar que o destino pode unir duas pessoas sim, mas se essa pessoa não for pra ser sua, ela não será. Convivo com essa eterna saudade que me sobrou, mas o destino é esse e quem sou eu para mudar?