Quando eu era criança tinha agonia dos dentes que
iam amolecendo dentro da minha boca. Quando eu ia percebendo que o dente de
leite estava querendo ir embora, tentava deixá-lo o maior tempo que eu podia,
pois perder ele me deixava feia e até causava dor. Mas, ele precisava cair e num determinado dia, ele se foi. Não há nada que eu pudesse fazer para mantê-lo comigo, há coisas que precisam partir da nossa vida.
Era preciso um tempo para que outro viesse desta
vez, mais firme e permanente. O que um dente de leite pode nos ensinar? Cá
entre nós, tenho pensado muito em lhes contar que nas pequenas coisas
aprendemos um montão e irei te falar o que podemos aprender com um dente. Às
vezes, entramos em um relacionamento e nos doamos para aquela pessoa, de vez em
quando, nos doamos até demais. Esquecemos-nos de nós mesmos, de quem somos e
passamos a ser o que o outro deseja. Em uma relação, há muitos desafios: a
mudança, os defeitos do outro, a confiança, a expectativa. E erramos quando
depositamos na outra pessoa toda a nossa expectativa a fim de que ela preencha
algo em nós. Ninguém preenche o coração de ninguém, nós precisamos estar
preenchidos do nosso próprio amor.
E quando o relacionamento acaba, a vida se vai.
Fica o vazio, a vontade de desaparecer, o desespero de não saber o que fazer
com a falta do alguém. Mas, lembra-se da história do dente de leite? É bem
assim. De vez em quando, uma pessoa precisa sair da nossa vida para que outra
entre, e talvez, esta pessoa que nos deixou não seja aquela que estava escrita
nas estrelas. Ela pode ter contribuído para muitas coisas, vocês podem ter
vivido momentos incríveis juntos e podem ter passado anos um ao lado do outro,
mas não era pra ser. E o dente de leite mostra que ele precisou ir embora para
que outro aparecesse. Assim pode ser na nossa vida, é preciso sossegar e esperar o tempo para que outra pessoa apareça. E dessa vez, vai ser alguém firme e permanente.