terça-feira, 26 de agosto de 2014

Sobre ter e ser

Sou do tempo de ganhar dez reais da mãe e ir ao shopping tomar casquinha de sorvete. Sou do tempo de estudar em um colégio e fazer cotinha para comprar lanche na hora do recreio. Sou do tempo de usar all star rabiscado e mochila preta. Sou do tempo de ter um celular grande que só servia pra ligar, atender chamadas e jogar o jogo da cobrinha. Sou do tempo de ir ao parque de diversões quando um ingresso valia para duas pessoas. Sou do tempo de ter hora pra dormir e hora pra acordar. Sou do tempo de gostar de um rapaz, ficar com vergonha e adicionar ele no msn. Mas, se ele não notasse minha presença, não tinha problema, eu entrava e saía para chamar atenção. Sou daquela época que as amigas dormiam uma na casa da outra e falavam sobre os gatinhos do colégio. Sou daquela época que devorava um livro em dois dias e que assistia séries a tarde inteira.

É óbvio que vamos crescendo e o mundo vai avançando, mas sinto medo de todo esse avanço. Um avanço que para mim tem seus benefícios, mas tem seu lado ruim também. Sinto a ligeira impressão de que as pessoas não vivem mais, elas correm contra o tempo. Todo mundo carrega uma pressa dentro de si mesmo e uma ansiedade difícil de controlar. Talvez o mal do século seja de querer tudo ao mesmo tempo. As crianças de hoje em dia não brincam mais. Elas não se melam na areia, não jogam na rua e muito menos recebem uma mesada de dez reais dos pais. É aquele velho ditado de "tudo tem seu tempo", e concordo plenamente! O desejo de estar sempre consumindo mais nos faz querer ser. Ser melhor do que o outro, ser mais importante, ser mais rápido, ser a melhor esposa. E querer ter também faz parte da nossa vida. Ter algo, ter o melhor carro, ter o melhor relacionamento, ter mais dinheiro. Ter, ser, ter, ser. 

Certo dia, vi uma frase que me fez pensar e que estou carregando dentro do meu novo eu. O meu novo eu que recomeça, assume erros, tenta melhorar e se faz mais presente. "O que te faz feliz?", dizia um rabisco que vi em uma anotação de caderno velho. Acho que a maioria das pessoas estão tão preocupadas em querer ser e em ter algo que esqueceram o que realmente faz bem para cada uma delas. Talvez, lá no fundo, ninguém saiba o que realmente deixa alguém feliz e na busca de querer algo mais, a decepção chega e frustra. 

Viva cada dia de uma vez. Tudo tem seu tempo e já não há mais ditado certo. Crianças precisam ser crianças e adultos precisam reconhecer que a maior idade chegou. Não queira ser algo demais, não deseje algo que não se pode ter. As melhores pessoas não são nada e possuem apenas o que elas merecem. 

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