sábado, 16 de agosto de 2014

O medo de ter medo

Para Pedro Araújo

Estava relendo a sua carta e prestando atenção em cada palavra escrita. Parece que hoje (sim, no dia de hoje) tudo faz mais sentido. Tive muitas promessas roubadas. Você me perguntou na última carta e antes, eu não saberia responder, mas já consigo te dizer que foram inúmeras promessas que me fizeram e não cumpriram. Mas, tenho que dizer que depositei muitas expectativas em cima de alguém e quis tudo fosse do meu jeito. Aprendi que não pode ser assim. O que venho te trazer na carta de hoje é o medo. Medo que me apavora, que não me deixa dormir e que me faz pensar várias vezes. Sinto medo de não realizar tudo que tanto desejo.

Você já parou pra pensar que o tempo corre e nós estamos sempre tão apressados? Já parou pra perceber que anoitece rapidamente e de vez em quando, ficamos na cama o dia inteiro? Já parou pra pensar que os nossos amigos vão deixando a nossa vida e só nos damos conta quando procuramos por eles? Já parou pra pensar que tá tudo tão absurdo que até o mais absurdo virou normal? Tenho medo, sabe Pedro? medo de não ser boa o suficiente no meu emprego, de chegar uma situação tão ruim e minha vida revirar, de não ter o casamento dos meus sonhos e de não sobrar nenhum amigo. Sinto medo de não viajar pra onde desejo e de valorizar quem não precisa ser valorizado. Tenho medo do amor não ser pro meu bico e de morrer antes de ter lido todos os livros que estão na minha prateleira. Tenho medo de ter medo.

Sonhar é incrível, realizar é mais difícil. E sabe, todos os dias, abro os olhos e quero recomeçar. Mesmo com o medo andando ao meu lado, tento valorizar a simplicidade da vida. Tem dias que olho para o céu e fico pensando em como Deus é perfeito por criar uma imensidão azul com nuvens que são desenhos. Acho que tudo é a maneira que você escolhe enxergar. Mas, quando estamos fracos, sozinhos e com o coração cheio, a insegurança, o medo e a vontade de desistir ficam ao nosso lado. Só que sei lá, acho que precisamos agarrar tudo aquilo que nos faz bem e sorrir com gratidão. 

E você, quais são os seus medos?

Um comentário:

  1. Querida Raíssa, talvez os medos mudem com seus donos. Alimentamos tantas expectativas e, de alguma forma, a ansiedade nos faz ter pressa em realizar aquilo que sonhamos. Seria tão prático se as coisas fossem fáceis! Justo pra o nosso coração tolo! O medo já me moveu pra nessa minha curta vida: trabalhei cedo, conheci pessoas, fiz amigos que levarei por muito tempo, aprendi, guardei, precisei esquecer, sorri, dancei, sofri decepções... penso que amei, deixei de amar, perdi a fé, reencontrei a minhas crenças, aprendi sobre elas, briguei. Já tive tanta pressa, tanta falta de tempo. Há um ano meio, mais ou menos... desacelerei, vi que não havia motivo pra querer ir rápido demais nesse mundo. Meus sonhos tinham mudado, minhas expectativas.
    Raíssa, talvez os medos causem alguma angústia porque eles podem nos estacionar. Somos o que somos, contamos com o que temos. Porém esse mesmo medo pode nos lançar longe. Comigo foi assim, lá nos 17 anos. Hoje tenho 24, pouca coisa pra me angustiar, muitos objetivos, poucas preocupações e tanta, tanta coisa pra fazer, ver, sentir, experimentar. E os medos? Existem. Só não me ocupam tanto o juízo que há coisa mais leve pra se pensar.
    Parabéns por seu espaço e plea disciplina na escrita, queria ter metade dela ;)
    Beijo!
    Su

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