quarta-feira, 1 de maio de 2013

Uma carta para Alfredo

Alfredo, sei bem como você se sente. Sei bem como é acordar sem vontade de viver e não encontrar cores bonitas ao redor do mundo. Sei bem como é ter a sensação de andar sempre com os pés trocados e de nada funcionar bem na sua vida. Eu também sei como é sentir o coração ser despedaçado a cada relacionamento doloroso que vai surgindo. Eu também sei como é sentir-se só no meio de uma multidão de pessoas que habita no mundo. Também já estive no seu lugar, já tentei preencher meu vazio com compras, pessoas, inutilidades, bares e música ao vivo. Já tentei preencher meu vazio com livros de auto-ajuda e filmes no meio da madrugada. Acredite é normal. É normal que nos sintamos fracos, desprotegidos, frustrados, tristes. Mas só de vez em quando. Viver sempre assim não é bom, não alimenta coisas boas, não colhemos bons frutos. Compreendo que de vez em quando é difícil viver, mas somos sempre capazes de suportar toda e qualquer dor que venha surgir.

Meu caro, certo dia encontrei uma garota que brincava na areia da praia correndo para cima da água do mar e voltando com um sorriso estampado no rosto. Fiquei observando aquela cena durante alguns minutos sem entender qual motivo aquela criança encontrava em sorrir tanto. Correr para água do mar e voltar, que graça teria? Mas logo pude entender que não havia nada demais, ela apenas se divertia com aquelas ondas grandes e fortes que chegavam perto dela, mas que logo voltavam para o fundo do mar. Assim somos nós. É óbvio que ninguém vive cem por cento feliz, haverá muitas ondas grandes e ruins que chegarão para nos levar até o fundo do mar, até o fundo da tristeza, mas só iremos se nos permitimos viver essa experiência. Já tive um lado mais irracional, um lado mais tomado pelas emoções, um lado mais cruel dentro de mim. Fiz coisas das quais me arrependo e deixei de viver certas oportunidades por medo. 

É Alfredo, pode ser que leve tempo para você entender que quem comanda o pé que devemos levantar pela manhã é você. Eu também já peguei trilhas erradas pelo caminho e me senti perdido, mas há sempre uma saída. É que de vez em quando acordamos com o peito machucado, uma dor na alma e no espírito, mas não se preocupe porque você não é o único. O egoísmo humano nos cega de uma forma tremenda. Achamos que as coisas só acontecem conosco e esquecemos de olhar um pouco para dor do outro. Lembre-se: só acontece aquilo que permitimos que aconteça. Uma pessoa só entra em nossa vida quando permitimos que ela se faça presente e uma dor só permanece até o dia em que queremos. Ultimamente você tem gostado dessa dor, mas é necessário que você lembre que a cada dia é um novo recomeço. E só recomeçamos quando nos permitimos. Permita-se recomeçar meu amigo, a vida bela e sempre haverá dor, mas também haverá felicidade. 

2 comentários:

  1. Uma carta para tantos Alfredos, na verdade...

    Que bom voltar aqui e perceber que a sensibilidade continua apurada, Raissa.

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  2. Você me definiu em um texto! (Não pelo Alfredo, viu). Parece que sou eu escrevendo esse texto. Hilário! hahahahahaa


    amei, muito!

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