domingo, 21 de outubro de 2012

Cedo ou tarde.

Você me olha com aqueles olhos de quem quer colo e suas mãos vão ficando cada vez mais fracas. Olhando pra você percebo que teria feito tudo igual. Sim, eu agiria da mesma forma para te conquistar. Mandaria o mesmo buquê de flores com um cartão escrito: Aceita ser minha? Eu sabia que aquilo acabaria com o seu coração. Você sempre foi tão durona na frente dos outros, mas quando te conheci profundamente percebi que sabia fingir muito bem. E nessa fase terminal da sua vida percebo que te amo da mesma maneira. Não importa que as olheiras tenham aumentado tanto, você continua bela. Sabe, há 40 anos atrás conheci a mulher da minha vida. Eu era um homem extremamente machista, orgulhoso, imbecil. Mas aí conheci seu sorriso. E juro que quando olhei para ti percebi que havia algo alí. Alguma coisa transformou meu coração.

Todos os dias você ia me mostrando motivos para te amar mais. Era o seu sotaque, a maneira como prendia o cabelo, a saia longa que te fazia ficar extremamente comportada, a gargalhada gostosa ao falar no telefone com as amigas. E não foi fácil acostumar com a ideia que o amor havia chegado. Amor é coisa para homem tolo, pensei. Engano meu. Estou sentado na cadeira do hospital vivendo os últimos dias contigo. Não quero me separar, agarro seu corpo e peço para que fique. Sinto-me uma criança de dois anos. Choro, reclamo e levo as minhas mãos para o rosto. Não acredito que isso está acontecendo. E você me olha da maneira mais linda que existe. Solta um sorrisinho. Diz que vai ficar tudo bem e que já vivemos tudo que tínhamos para viver.

Você pede para contar aquela história do nosso primeiro "eu te amo". Recordo-me que fiquei treinando na frente do espelho por dias e na hora não consegui falar o que tanto queria. Tive vergonha. Até que um dia você perguntou quando eu diria. Fiquei sem jeito e te agarrei por vários minutos. Não parei de dizer essas três palavras. Foi contigo que vivi os melhores momentos da minha vida, aprendi a ser mais homem e deixei o sentimento tomar conta de mim. Uma hora a velhice chega e é por isso que ela está levando alguém que amei tanto. Não importa o tempo que passamos juntos, e sim o que sentimos um pelo outro. Mas a gente não deve culpar a vida, todos nós vamos passar por isso. Mais cedo ou mais tarde.

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