terça-feira, 4 de setembro de 2012

Pressa de viver.

Faz frio e chove bastante. Estou agarrada com uma caixa onde guardo minhas melhores lembranças. Acho cartas das minhas melhores amigas da época e que hoje já nem mantenho contato. Algumas conseguiram casar, outras partiram dessa cidade e outras desapareceram dessa vida. Encontro fotografias antigas da família e me pego observando o sorriso da minha mãe, ela era tão jovem e tão bonita. Encontro alguns diários antigos e fico surpresa com a quantidade de besteira que havia alí. Encontro conversas do colégio falando sobre algum menino bonito do ensino médio. As lágrimas vão surgindo. O que a gente faz com essa vida? Acho muito interessante a capacidade que as pessoas tem de deixar a vida dos outros. Acho interessante como o tempo passa rápido e como nós vamos envelhecendo. Acho isso crueldade.

Ligo o rádio. Aquela caixa tem trilha sonora. É quando bate aquela saudade de tudo: das brincadeiras de criança, daquela amarelinha riscada no meio da rua, dos gritos da minha mãe para comer bem e não ficar doente, das minhas amigas do colégio vivenciando o primeiro amor, das viagens com a família, das histórias contadas. Levanto e me olho no espelho. Quase que não me reconheço. A minha vida anda tão corrida que não tive tempo de analisar como estou. Percebo que há alguns cabelos brancos e estou até mais gordinha, percebo que já não tenho mais aquele rosto de antes e que andei crescendo um pouco. Garanto que foi falta de tempo. É nesse momento que paro e converso comigo. O que a gente faz com a vida? Somos crianças e logo queremos ser adultos, crescemos e estudamos para passar no vestibular e cursar o curso dos nossos sonhos. Conseguimos passar e vivenciamos a faculdade. Terminamos o curso e trabalhamos. Trabalhamos e queremos construir uma família. Construímos uma família e ficamos velhos. Ficamos velhos e morrermos. Lei natural da vida.

A gente não tem tempo de pensar assim. Vivemos com tanta pressa que esquecemos de olhar nossos pais, abandonamos eles e deixamos de lado as preocupações de casa. É pouco tempo para viver. Queremos tudo de uma só vez e isso faz com que deixemos de lado nós mesmos. Deixamos de nos cuidar e esquecemos da importância do nosso bem-estar. Nosso ciclo de amizade vai diminuindo com o tempo e quando contamos nos dedos só restaram um ou dois. Nós não vivemos corretamente. Mas eu acho que temos pressa porque o tempo é "curto". Se tivermos sorte em chegarmos ao fim da vida. Um dia nós vamos sentar no chão e pegar aquela caixa de lembrança, só aí vamos perceber que o que realmente vale é o hoje. O que passou, passou. Fica a saudade, o choro, a lembrança. E vamos perceber que nem é preciso ter tanta pressa assim, quando aprendemos a viver bem, aprendemos a viver devagar. 

7 comentários:

  1. A pressa é o modo ansioso de se perder tempo.
    GK

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  2. Pois é bem verdade. Sempre correndo, sem tempo de olhar para trás. As lembranças vão ficando no fundo da memória, cada dia mais distante de ser lembrada. E isso me atormenta um pouco.

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  3. os 20 poucos anos, amiga! lindo texto, me identifiquei, mais uma vez, hahaha um beijo, fique com Deus.

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  4. é a crise dos 20, passo por isso...

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  5. A minha vida também cabe dentro de uma caixa e, no momento, ela está na casa dos meus pais que eu tento muito - muito mesmo, não abandonar.
    Saí de casa há pouco tempo, mas bate uma saudade, principalmente da pessoa que fui com eles. Bate uma saudade também do colégio, dos amigos, das pessoas que fizeram parte do meu amadurecimento em todos os sentidos.
    Bate uma saudade. E o pior é que não voltaremos àquele tempo. E o melhor é que renovamos nosso pacto com a vida a cada dia que passa.
    Abraços.

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  6. Por isso que um dos meus maiores "medos" é envelhecer. E olha que com 20 e poucos anos já pensamos nisso! Imagina quando chegarmos nos 50 -_-" kkkkkk
    Você poderia pegar esse texto e reescrevê-lo ou complementa-lo a cada 5 ou 10 anos pra ir marcando as passagens e mudanças da vida. E as mudanças da sua própria opinião sobre a passagem dos anos.

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  7. resumiu a vida em 3 parágrafos, lindo.

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