Cheguei em casa e fui checar minhas coisas: e-mail, caixa postal, correio. Não encontro nada. Coloco a janta e sento sozinha em uma mesa para quatro pessoas. Café, torradas e manteiga me fazem companhia. Bem no meio daquele dia frio tento encontrar algum motivo para continuar vivendo. Nesses momentos não consigo lembrar o que realmente importa. Nada mudou, tenho a sensação de viver em uma bola e essa bola ficar parada sempre no mesmo lugar. Semana passada conheci um cara. Branquelo, magro, alto, olhos pretos e com um sinal no braço esquerdo. Fiquei encantada, meus dias foram se tornando mais interessantes e eu já podia contar para o mundo inteiro quão bonito era aquele cara.
Aí o encanto sumiu. Logo pude perceber que não adianta desejar quem não se pode ter e eu já não me sentia tão entusiasmada assim. Mais uma vez voltei para o meu mundo solitário. Sabe, da mesma maneira que janto sozinha, eu vivo sozinha. Antes de dormir converso comigo e faço piadas sobre o meu novo corte de cabelo. Ligo a tevê para não parecer tão sozinha, mas aí percebo que nos seriados há casais felizes e que até eles tem alguém. Percebo que ligar a tevê não foi uma boa ideia. Ultimamente tenho recebido as mesmas ligações de sempre, tenho conversado com as mesmas pessoas e tenho uma rotina chata pra caramba. Tenho ouvido até as mesmas músicas e isso me faz perceber que sou patética.
Sabe, ninguém precisa de ninguém para viver. Isso é fato. Só que a gente precisa de alguém pra deixar nossa vida um pouco mais colorida. A gente precisa de uma pessoa que possamos conversar nos dias mais frios e ligar para contar como foi o dia antes de dormir. Uma pessoa que sorria e o nosso coração estacione no tempo. Uma pessoa que aguente as nossas reclamações e ouça os nossos sonhos. Alguém que não conheça a nossa história e fique surpreso quando escutar as loucuras que já fizemos. Como a gente faz para aprender a ser só? Como fazemos para não sermos tão dependente de alguém? Como fazer para não criarmos sonhos e expectativas em cima de uma pessoa? Como parar de criar alguém que ainda não chegou?
Volto mais uma vez para mesa de jantar e encosto minha cabeça no vidro. Fico deitada uns cinco minutos tentando resolver minha própria vida. Essa vida tão bagunçada que levo. Essa vida tão solitária.